«Constatando a sua humanidade, desdenhavam de acreditar no Criador!»

«Até os loucos me desprezam» (Job 19,18 Vulg). Os sábios não tinham fé na verdade, mas podemos dizer que o mesmo acontecia aos loucos, uma vez que, constatando que fariseus e doutores da Lei desprezavam o Senhor, a multidão os seguia nessa incredulidade: vendo nele o homem, desprezava as lições do Redentor do mundo.

Com efeito, o termo «loucos» designa por vezes os pobres do povo. […] Ora, o nosso Redentor ignorou os sábios e os ricos deste mundo, pois vinha ao encontro dos pobres e dos loucos. Apesar disso, observa nesta altura, como que para fazer crescer a sua dor: «Até os loucos me desprezam»; ou seja, fui desprezado por aqueles mesmo que queria sarar, assumindo a loucura da minha pregação. Com efeito, a Escritura declara: «Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação» (1Cor 1,21). Pois o Verbo é a sabedoria de Deus e aquilo a que, nesta sabedoria, se chama loucura é a carne do Verbo: vendo a incapacidade dos homens carnais para alcançarem a sabedoria de Deus por meio da prudência da carne, Ele quis sará-los pela loucura da sua pregação, ou seja, pela carne do Verbo. Por isso, declara: «Até os loucos me desprezam». Era o mesmo que dizer abertamente: sou desprezado por aqueles mesmos que quis salvar sem receio de passar por louco.

Na verdade, o povo dos judeus, observando os milagres do nosso Redentor, honrava-O perante estes sinais, dizendo: «Eis o Cristo»; porém, constatando a fraqueza da sua humanidade, desdenhava de acreditar no seu Criador e dizia: «É que Ele seduz as multidões» (Jo 7,12). Bem podia Ele, pois, acrescentar: «E, quando me afastava deles, insultavam-me» (Job 19,18 Vulg).

São Gregório Magno (c. 540-604)
Livro XIV, SC 212
Fonte: Evangelho Cotidiano

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