«O silêncio de Zacarias»

O futuro pai de João não acredita que este possa nascer e é castigado com a mudez; Maria acredita e Cristo é concebido pela fé. […] Se não formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão grande mistério por falta de capacidade ou de tempo, melhor no-lo ensinará Aquele que fala dentro de nós, mesmo estando nós ausentes, Aquele em quem pensamos com amor filial, que recebemos no nosso coração e de quem nos tornámos templos. […]

Zacarias cala-se e perde a fala até ao nascimento de João, o precursor do Senhor; e então, recupera a fala. […] O fato de Zacarias recuperar a fala ao nascer João tem o mesmo significado que o rasgar-se do véu do Templo ao morrer Cristo na cruz. Se João se anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se-lhe a língua porque nasce aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe: «Quem és tu?». E ele respondeu: «Eu sou a voz que clama no deserto» (Jo 1,23). João é a voz; mas o Senhor, «no princípio, era a Palavra» (Jo 1,1). João é a voz passageira; Cristo é, no princípio, a Palavra eterna.


Santo Agostinho de Hipona (norte de África) (354-430)
Sermão 293, para a natividade de São João Batista; PL 38, 1327 (trad. breviário 24/06)
Fonte: Evangelho Cotidiano

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