«Todos consideram João como profeta»

Se perguntarmos porque é que João batizava, uma vez que não podia remir os pecados com o seu batismo, a razão é bem clara: para ser fiel ao seu ministério de Precursor, João tinha de batizar antes do Senhor, tal como nascera antes dele, pregava antes dele e morreria antes dele. Mas também o fazia para impedir que as invejas quezilentas dos fariseus e dos escribas recaíssem sobre o ministério do Senhor, como aconteceria se fosse Ele o primeiro a dar o batismo aos homens. «Donde era o batismo de João? Do Céu ou dos homens?». Tal como não ousaram negar que vinha do Céu, assim também seriam constrangidos a reconhecer que as obras daquele sobre quem João pregava eram realizadas por um poder que vinha do Céu.

O batismo de João não remia os pecados, mas não deixava de ser fecundo para aqueles que o recebiam: […] era um sinal de fé e de arrependimento, isto é, lembrava a todos que deviam abster-se do pecado, dar esmola, crer em Cristo e apressar-se a pedir o seu batismo quando Ele aparecesse, para remissão dos seus pecados.

Por outro lado, o deserto onde João habitava representa a via dos santos, que se afastam dos prazeres deste mundo. Quer vivam na solidão, quer no meio da multidão, eles tendem com toda a sua alma a desligar-se dos desejos deste mundo, e só encontram alegria quando se ligam a Deus no segredo do seu coração e põem toda a sua esperança nele. Era para essa solidão da alma, tão cara a Deus, que o profeta desejava tender, com a ajuda do Espírito Santo, quando dizia: «Quem me dera ter asas como a pomba, para poder voar e encontrar abrigo!» (Sl 55,7).


São Beda, o Venerável (c. 673-735), 
Sermão n.º 1; CCL 122, 2
Fonte: Evangelho Cotidiano

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