«Comiam e bebiam, compravam e vendiam»
O Senhor recomendou aos seus discípulos que sacudissem como a pó tudo o que a sua natureza tem de terreno, para que o seu espírito se elevasse até às realidades sobrenaturais; quem se volta para a vida do alto deve ser mais forte que o sono e manter o espírito sempre vigilante. […] Refiro-me ao adormecimento dos que vivem mergulhados na mentira da vida pelos sonhos ilusórios que são as honras, as riquezas, o poder, o fascínio dos prazeres, a ambição, a sede de gozo, a vaidade e tudo o que a imaginação leva os homens superficiais a procurar insensatamente. Todas essas coisas se esgotam com a natureza efémera do tempo; são do domínio do parecer […]: mal parece que existem, logo desaparecem, à maneira das ondas do mar. […]
É para que o nosso espírito seja liberto dessas ilusões que o Verbo nos convida a sacudir dos olhos da alma esse sono profundo, a fim de que não nos afastemos das realidades verdadeiras, ligando-nos ao que não tem consistência. É por isso que nos propõe a vigilância, dizendo-nos: «Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas» (Lc 12,35). Porque a luz, ao brilhar diante dos olhos, expulsa o sono, e os rins apertados com o cinto impedem o corpo de sucumbir ao seu torpor. […] Aquele que está cingido com a temperança vive na luz de uma consciência pura; a confiança filial ilumina a sua vida como uma lâmpada. […] Se vivermos assim, teremos numa vida semelhante à dos anjos.
São Gregório de Nissa (c. 335-395)
Homilia 11 sobre o Cântico dos Cânticos
Fonte: Evangelho Cotidiano