«Se [essa casa] for digna, desça a vossa paz sobre ela»

«Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: a paz seja nesta casa» (Lc 10, 5), para que o próprio Senhor lá entre e resida, como junto de Maria. […] Esta saudação é o mistério da fé que brilha no mundo; por ela, o ódio é asfixiado, a guerra interrompida e os homens compreendem-se mutuamente. O efeito desta saudação estava oculto por um véu, apesar da prefiguração do mistério da ressurreição […], que ocorre sempre que a luz aparece e a aurora expulsa a noite. A partir do momento em que Cristo enviou os seus discípulos pela primeira vez, os homens começaram a dar e a receber esta saudação, que é fonte de cura e de bênção. […]

Esta saudação, com o seu poder oculto […], é amplamente suficiente para todos. Foi por isso que Nosso Senhor a enviou como pré-anúncio com os seus discípulos, para que ela realizasse a paz e, levada pela voz dos apóstolos, seus enviados, Lhe preparasse o caminho. Ela foi semeada em todas as casas […], entrou em todos os corações que a entenderam, para separar e distinguir os seus filhos, reconhecendo-os. Ela permanecia neles, mas denunciava os que lhe eram estranhos, porque não a acolhiam.

Esta saudação de paz não secava, jorrava dos apóstolos para os seus irmãos, desvendando os tesouros inesgotáveis do Senhor […]. Presente naqueles que a davam e nos que a acolhiam, este anúncio de paz não sofria diminuição nem divisão. Sobre o Pai, anunciava que Ele está perto de todos e em todos; sobre a missão do Filho, revelava que Ele está por inteiro junto de todos, mesmo que o seu fim seja estar junto do Pai. Ela não cessa de proclamar que, doravante, as figurações são realizadas e a verdade expulsa enfim as sombras.

Santo Efrém, o Sírio (c. 306-373)
Diatesseron 8, 3-4
Fonte: Evangelho Cotidiano

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