«O amor maternal de Deus»

Procuremos nas coisas humanas uma comparação para a incomparável clemência do nosso Criador; não com a mira de nelas encontrar igualdade de ternura, mas ao menos uma certa semelhança na bondade indulgente.

Pensemos numa mãe cheia de amor e de cuidados, que durante muito tempo anda com o filho ao colo, até que, finalmente, o ensina a caminhar. A princípio, deixa-o gatinhar. Depois, levanta-o, pegando-lhe na mão, a fim de que ele aprenda a pôr os pés um à frente do outro. A seguir, solta-o uns momentos; porém, vendo que o filho vacila, rapidamente lhe estende a mão, apoiando-lhe os passos hesitantes, levantando-o do chão quando ele cai ou evitando a queda, ou então deixando-o cair suavemente e voltando a levantá-lo. Com o passar do tempo, o filho torna-se um rapazinho, e ei-lo em toda a força da adolescência e da juventude. Nessa altura, a mãe pode encomendar-lhe recados, pedir-lhe pequenos trabalhos em que ele possa exercitar-se sem ficar sobrecarregado, autorizá-lo a lutar com os amigos.

Pois o nosso Pai que está nos Céus bem sabe quem deve aproximar do seio da sua graça e quem deve exercitar na virtude, na sua presença, deixando-o árbitro da sua vontade! Contudo, continua a ajudar-nos nas nossas lutas, ouve os nossos pedidos, não se esquiva às nossas solicitações, indo por vezes a ponto de nos afastar dos perigos contra a nossa vontade. Tudo isto mostra claramente que os juízos de Deus são insondáveis, que são incompreensíveis os caminhos pelos quais Ele atrai a humanidade à salvação.


São João Cassiano (c. 360-435)
«Sobre a proteção divina», cap. XIII-XIV; SC 54
Fonte: Evangelho Cotidiano

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