«Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?»

«Eis que o inverno passou», diz o Esposo, «e que desapareceram as chuvas» (Cant 2,11). O mal tem muitos nomes — é inverno, chuva e granizo –, conforme a diversidade dos seus efeitos, e cada um destes nomes simboliza uma tentação específica. Chamamos-lhe inverno para simbolizar a multiplicidade de formas do mal. […] Quando há tempestades, o mar cresce, erguendo-se dos abismos, imitando os rochedos e as montanhas, elevando-se acima das águas dos cumes; e atira-se contra a terra como seu inimigo, precipitando-se sobre a costa e abalando-a com os sucessivos golpes dos seus fluxos, quais ataques de máquinas de guerra.

Analisemos o significado simbólico destes e doutros males do inverno. […] O que é este mar de ondas severas? O que é esta chuva e este granizo? E como é que a chuva deixa de cair? O sentido profundo dos enigmas do inverno relaciona-se com a liberdade da nossa vontade. […] No princípio, a natureza humana florescia […]; mas o inverno e a desobediência secaram-lhe as raízes, a flor caiu e foi absorvida pela terra: o homem foi despojado da sua beleza imortal e a erva das suas virtudes secou, pelo arrefecimento do amor de Deus, enquanto a iniquidade crescia; ergueram-se em nós paixões sem nome, provocadas por ventos hostis, e causaram naufrágios funestos nas almas.

Mas, quando veio Aquele que traz a primavera à nossa alma, Aquele que, quando um vento mau desperta o mar, ameaça o vento e diz ao mar: «Cala-te e está quieto», imediatamente se restabeleceu a calma e a serenidade, e a nossa natureza voltou a florescer, guarnecendo-se com as flores que lhe são próprias. As flores da nossa vida são as virtudes, que florescem agora e produzem os seus frutos «na estação própria» (Sl 1,3). Foi por isso que o Verbo declarou: «Eis que o inverno passou».

São Gregório de Nissa (c. 335-395)
O inverno passou
Fonte: Evangelho Cotidiano

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