«O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador»
«A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador». Com estas palavras, Maria reconhece, em primeiro lugar, os dons singulares que lhe foram concedidos, e a seguir enumera os benefícios universais com que Deus favorece continuamente o gênero humano.
Glorifica o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e serviço de Deus e, pela observância dos mandamentos, mostra que está a pensar sempre no poder da majestade divina. Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas em meditar no seu Criador, de quem espera a salvação eterna. Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a sua ressonância mais perfeita ao serem proferidas pela bem-aventurada Mãe de Deus, que, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual Aquele cuja concepção corporal no seu seio era a causa da sua alegria. Com razão pôde ela exultar, mais que todos os outros santos, em Jesus, seu Salvador, porque sabia que o eterno Autor da salvação havia de nascer da sua carne com nascimento temporal, e, sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor. […]
Por isso se introduziu na liturgia da Santa Igreja o costume, belo e salutar, de cantarem todos este hino de Maria na salmodia vespertina, para que os fiéis, ao recordarem assiduamente o mistério da encarnação do Senhor, se entreguem com generosidade ao serviço divino e, lembrando-se constantemente dos exemplos da Mãe de Deus, se confirmem na verdadeira santidade. E pareceu muito oportuno que isto se fizesse na hora das Vésperas, para que a nossa mente, fatigada e distraída ao longo do dia com pensamentos diversos, encontre o recolhimento e a paz de espírito ao aproximar-se o tempo de descanso.
São Beda, o Venerável (c. 673-735),
Homilias sobre o Evangelho, I, 4; CCL 122, 25ss. (trad. Breviário, rev.)
Fonte: Evangelho Cotidiano