«Como tinha prometido a nossos pais»
Maria disse então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. […] Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». A Virgem ultrapassa a perfeição do patriarca e confirma a aliança que Deus estabeleceu com Abraão, ao dizer: «Eis o pacto que estabeleci entre Mim e vós» (Gn 17,11). […] É o canto desta profecia que a Santa Mãe dirige a Deus quando Lhe diz: «A minha alma glorifica o Senhor […]. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. Ao querer que eu fosse a Mãe de Deus, Ele preservou a minha virgindade. No meu seio recapitula-se, para ser santificada, a plenitude de todas as gerações, pois Ele abençoou todas as idades, homens, mulheres, jovens, crianças, idosos». […]
«Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes». […] Os humildes, os povos pagãos, que estavam famintos de justiça (Mt 5,6), foram exaltados. Ao tornarem visível a sua humildade e a sua fome de Deus, solicitando a palavra de Deus como a cananeia pediu as migalhas (Mt 15,27), eles ficaram saciados com as riquezas contidas nos mistérios divinos. Pois Jesus Cristo, nosso Deus, distribuiu todo o lote dos favores divinos aos pagãos. «Acolheu a Israel, seu servo», não um Israel qualquer, mas o seu filho, cujo elevado nascimento Ele honra. Por isso, a Mãe de Deus chama a este povo seu filho e seu herdeiro. Ao ver este povo esgotado pela letra, extenuado pela Lei, Ele chamou-o à sua graça. Ao dar este nome a Israel, ergueu-o, «lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Estas palavras são um resumo de todo o mistério da nossa salvação. Querendo salvar a humanidade e selar a aliança estabelecida com os nossos pais, Jesus Cristo «inclinou os Céus e desceu» (Sl 17,10), manifestando-Se a nós, colocando-Se ao nosso alcance para que O pudéssemos ver, tocar e ouvir falar.
Homilia grega do século IV
Atribuída a São Gregório de Neocesareia ou São Gregório Taumaturgo, n.º 2; PG 10, 1156
Fonte: Evangelho Cotidiano