Jesus impôs as mãos sobre os olhos do cego
O espelho projeta; o espelho apaga. Com efeito, Aquele que, «vindo ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9) é o verdadeiro espelho do Pai. Cristo passa enquanto imagem do Pai (Heb 1, 3) e afasta a cegueira dos olhos dos que não vêem. Este Cristo que veio do céu passa, a fim de que todo o homem O veja, de acordo com a palavra profética do velho Simeão, que recebeu o Verbo recém-nascido nos seus braços e O contemplou com alegria, dizendo: «Agora, Senhor, podes deixar ir o teu servo partir em paz, segundo a Tua palavra porque os meus olhos viram a Salvação» (Lc 2, 29-30).
Só, o cego não podia ver Cristo, espelho do Pai. Qual era então a fidelidade d’Aquele que os profetas tinham anunciado: «Então se abrirão os olhos do cego e se desimpedirão os ouvidos do surdo, o coxo saltará como um veado e a língua do mudo dará gritos de alegria»? (Is 35, 5-6) Cristo abriu os olhos ao cego, que viu em Cristo o espelho do Pai. Maravilhoso remédio contra a natureza! […]
O primeiro homem foi criado luminoso, tornando-se cego quando se abandonou à serpente: este cego tornou a nascer quando voltou a acreditar. Porque o seu corpo era fraco, mas a sua natureza também estava corrompida. Necessitava duplamente da Luz. […] O artífice, o seu Criador, passou e reflectiu no espelho esta imagem do homem caído, vendo a miséria do cego. Milagre do poder de Deus, que cura quem encontra e ilumina quem visita.
Homilia atribuída a São Fulgêncio de Ruspe (467-532), bispo
(trad. em Kephas, Fayard, t. 2, p. 172 rev)
Fonte: Evangelho Cotidiano