«Ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela»

Quando o nosso Senhor e Salvador se aproximou de Jerusalém, ao vê-la, chorou sobre ela: «Se neste dia tivesses conhecido, tu também, O que te pode trazer a paz! Mas isso ficou oculto aos teus olhos. Virão dias para ti em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras»… Talvez alguém diga: «O sentido destas palavras é claro; de facto, elas realizaram-se em relação a Jerusalém; a armada romana sitiou-a e devastou-a até ao extermínio, e tempos virão em que não ficará pedra sobre pedra».

Não o nego, Jerusalém foi destruída por causa da sua cegueira, mas coloco a questão: não se referem essas lágrimas à Jerusalém em nós?  Porque nós somos a Jerusalém sobre a qual Jesus chorou, nós que imaginamos ter um olhar tão penetrante. Se, uma vez instruídos nos mistérios da verdade, após ter recebido a palavra do Evangelho e os ensinamentos da Igreja…, um de nós peca, ele provocará lamentações e lágrimas, porque não se chora sobre nenhum pagão, mas sobre aquele que depois de ter feito parte de Jerusalém deixou de estar nela.

As lágrimas são vertidas sobre a nossa Jerusalém porque, devido aos nossos pecados, «os inimigos vão rodeá-la», quer dizer, as forças adversas, os espíritos do mal. Eles colocarão trincheiras ao seu redor; sitiá-la-ão, e «não deixarão pedra sobre pedra». É o que acontece assim que, depois de uma longa abstinência e muitos anos de castidade, um homem sucumbe, vencido pelas seduções da carne… Eis pois a Jerusalém sobre a qual as lágrimas são derramadas. 

Orígenes (c. 185-253), padre e teólogo
Homilia 38 sobre Lucas, Pg 13, 1896-1898
Fonte: Evangelho Cotidiano

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