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Comissão «Fé e Constituição» 
do Conselho Mundial de Igrejas, 1982.

Texto de Lima, 1982:

«Convergência da Fé»

(Batismo, Eucaristia, Ministério)


III - Eucaristia

I. A Instituição da Eucaristia

1. A Igreja recebe a eucaristia como um dom da parte do Senhor. S. Paulo escreveu: "Eis o que eu recebi do Senhor, e o que vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão, e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo, que é por vós, fazei isso em memorial (anamnesis) de mim". Fez o mesmo com o cálice, depois de ter ceado, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que dele beberdes, em memorial de mim." (1 Cor 11:23-25; cf. Mat. 26;26-29; Marc 14:22-25; Luc 22: 14-20).

As refeições que Jesus partilhou durante o seu ministério terrestre, e das quais temos notícia, proclamam e representam a proximidade do Reino: a multiplicação dos pães é disso um sinal. Quando da sua última refeição, a comunhão do Reino foi posta em relação com a perspectiva dos sofrimentos de Jesus. Depois da sua ressurreição, o Senhor manifestou a sua presença e deu-se a conhecer aos seus discípulos na fração do pão. A eucaristia encontra-se, assim, na linha de continuidade dessas refeições de Jesus durante a sua vida terrestre e depois da sua ressurreição, sinais contínuos do Reino. Os cristãos consideram que a eucaristia é prefigurada pelo memorial do livramento, na Páscoa de Israel, libertação do país da servidão, e pela refeição da Aliança no monte Sinai (Êxodo 24). Ela é a nova refeição pascal da Igreja, a refeição da Nova Aliança que Cristo deu aos seus discípulos como o memorial (anamnesis) da sua morte e da sua ressurreição, como a antecipação do banquete do Cordeiro (Ap. 19:9); Cristo ordenou aos seus discípulos que fizessem memória dele, encontrando-o assim, nesta refeição sacramental, como povo de Deus peregrino, até à sua volta.

A última refeição celebrada por Jesus foi uma refeição litúrgica que utilizava palavras e gestos simbólicos. Conseqüentemente, a eucaristia é uma refeição sacramental que, através de sinais visíveis, nos comunica o amor de Deus em Jesus Cristo, o amor com que Jesus amou os seus "até ao fim" (João 13:1). Têm-lhe sido dados diversos nomes, por exemplo: refeição do Senhor, fração do pão, santa ceia, santa comunhão, divina liturgia, missa. A sua celebração é sempre o ato central do culto da Igreja.

II. A significação da Eucaristia

2. A eucaristia é essencialmente o sacramento do dom que Deus nos faz em Cristo pelo poder do Espírito Santo. Cada cristão recebe este dom da salvação pela comunhão no corpo e no sangue de Cristo. Na refeição eucarística, no ato de comer o pão e de beber o vinho, Cristo concede a comunhão com ele. Deus mesmo age na eucaristia dando vida ao corpo de Cristo e renovando cada membro deste corpo. Segundo a promessa de Cristo, cada batizado, membro do corpo de Cristo, recebe na eucaristia a segurança da remissão dos pecados (Mat. 26:28) e a garantia da vida eterna (João 6:51-58). Ainda que a eucaristia seja essencialmente um todo, ela será considerada aqui sob os seguintes aspectos: ação de graças ao Pai, memorial e Cristo, invocação do Espírito, comunhão dos fiéis, refeição do Reino.

a - A Eucaristia como Ação de Graças ao Pai

3. A eucaristia, que contem sempre simultaneamente palavra e sacramento, é uma proclamação e uma celebração da obra de Deus. A eucaristia é a grande ação de graças ao Pai por tudo o que ele cumpriu na criação, na redenção e na santificarão, por tudo o que ele cumpre agora na Igreja e no mundo não obstante o pecado dos seres humanos, por tudo o que ele cumprirá conduzindo o seu Reino até à plenitude. Deste modo, a eucaristia é a bênção (berakah) pela qual a Igreja exprime o seu reconhecimento para com Deus por todos os seus benefícios.

4. A eucaristia é o grande sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja fala no nome de toda a criação. Com efeito, o mundo que Deus reconciliou com ele mesmo está presente em cada eucaristia: no pão e no vinho, na pessoa dos fiéis e nas orações que eles oferecem por eles próprios e por todo os humanos. Cristo une os fiéis à sua pessoa e as orações deles à sua própria intercessão, de modo que os fiéis são transfigurados e as suas orações aceites. Este sacrifício de louvor só é possível por Cristo, com ele e nele. O pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho dos homens, são apresentados ao Pai na fé e na ação de graças. Deste modo, a eucaristia revela ao mundo aquilo em que ele se deve tornar: uma oferta e um louvor ao Criador, uma comunhão universal no Corpo de Cristo, um reino de justiça, de amor e de paz no Espírito Santo.

b - A Eucaristia como "anamnese" ou Memorial de Cristo

5. A eucaristia é o memorial de Cristo crucificado e ressuscitado, isto é, o sinal vivo e eficaz do seu sacrifício, cumprido uma vez por todas sobre a cruz, e continuamente agindo a favor de toda a humanidade. A concepção bíblica do memorial aplicada à eucaristia exprime esta eficácia atual da obra de Deus quando ela é celebrada pelo seu povo sob a forma de liturgia.

6. O próprio Cristo, com tudo o que ele cumpriu por nós e pela criação inteira (na sua incarnação, condição de servo, ministério, ensino, sofrimento, sacrifício, ressurreição, ascensão e envio do Espírito Santo) está presente neste memorial: ele concede-nos a comunhão com ele. A eucaristia é deste modo o antegosto da sua volta e do reino eterno.

7. O memorial, onde Cristo age através da celebração jubilosa da sua Igreja, é pois simultaneamente representação e antecipação. O memorial não é somente uma lembrança do passado ou da sua significação; é a proclamação eficaz feita pela Igreja da grande obra de Deus e das suas promessas.

8. O memorial, como representação e antecipação, cumpre-se sob a forma de ação de graças e de intercessão. Proclamando diante de Deus, na ação de graças, a grande obra de redenção, a Igreja intercede junto dele para que ele conceda a todos os seres os benefícios desta libertação. Nesta ação de graças e intercessão, a Igreja está unida com o Filho, seu Sumo Sacerdote e seu intercessor (Rom 8:34; Heb 7:25). A eucaristia é o sacramento do sacrifício único de Cristo, continuamente vivo para interceder em nosso favor. Ela é o memorial de tudo o que Deus faz pela salvação do mundo. "O que Deus quis cumprir na incarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo, não volta a fazê-lo; esses acontecimentos são únicos, não podem ser nem repetidos nem prolongados. No memorial da eucaristia, porém, a Igreja oferece a sua intercessão, na comunhão de Cristo, nosso Sumo Sacerdote.

Comentário:

É à luz desta significação da eucaristia como intercessão que se podem compreender as referências à eucaristia como "sacrifício propiciatório" na teologia católica. Só há uma expiação, a do sacrifício único da Cruz, atuante na eucaristia e apresentado ao Pai na intercessão de Cristo e da Igreja por toda a humanidade. À luz da concepção bíblica do memorial, todas as Igrejas poderiam rever as velhas controvérsias a propósito da noção de "sacrifício", e aprofundar a sua compreensão das razões pelas quais outras tradições utilizaram ou rejeitaram este termo.

9. O memorial de Cristo é o fundamento e a fonte de toda a oração cristã. A nossa oração apóia-se na intercessão contínua do Senhor ressuscitado, está unida a esta intercessão. Na eucaristia, Cristo dá-nos a força para vivermos com ele, sofrermos com ele e orarmos por intermédio dele, como pecadores justificados que cumprem livre e alegremente a sua vontade.

10. Em Cristo oferecemo-nos a nós mesmos em sacrifício vivo e santo em toda a nossa vida quotidiana (Rom 12:1; 1 Ped 2:5); este culto espiritual agradável a Deus alimenta-se na eucaristia, onde somos santificados e reconciliados no amor para sermos servidores da reconciliação no mundo.

11. Unidos a nosso Senhor e em comunhão com todos os santos e mártires, somos renovados na aliança selada pelo sangue de Cristo.

12. Visto a "anamnese" de Cristo ser o verdadeiro conteúdo da Palavra proclamada, bem como a essência da refeição eucarística, uma reforça a outra. A celebração da eucaristia implica normalmente a proclamação da Palavra.

13. As palavras e gestos de Cristo na instituição da eucaristia estão no coração da celebração: a refeição é o sacramento do corpo e do sangue de Cristo, o sacramento da sua presença real. Cristo cumpre de modos múltiplos a sua promessa de estar com os seus para sempre até ao fim do mundo. Mas o modo da presença de Cristo na eucaristia é único. Jesus disse sobre o pão e o vinho da eucaristia: "Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue..." O que Cristo disse é a verdade e cumpre-se todas as vezes que a eucaristia é celebrada. A Igreja confessa a presença real, viva e ativa de Cristo na eucaristia. Ainda que a presença real de Cristo na eucaristia não dependa da fé dos indivíduos, todos estão de acordo para dizer que o discernimento do corpo e do sangue de Cristo exige a fé.

Comentário:

Muitas Igrejas crêem que, pelas palavras de Jesus e pelo poder do Espírito Santo, o pão e o vinho da eucaristia se tornam, de uma maneira real e no mistério, o corpo e o sangue de Cristo ressuscitado, isto é, do Cristo vivo presente em toda a sua plenitude. Sob os sinais do pão e do vinho, a realidade profunda é o ser total de Cristo, que vem a nós para nos alimentar e transformar todo o nosso ser. Outras Igrejas, afirmando embora a presença real de Cristo na eucaristia, não vinculam essa presença de um modo tão definido aos sinais do pão e do vinho. As Igrejas deverão decidir se essa diferença pode coexistir com a convergência formulada no próprio texto.

c - A Eucaristia como invocação do ESPÍRITO

14. O Espírito Santo faz com que Cristo crucificado e ressuscitado esteja realmente presente para nós na refeição eucarística, cumprindo assim a promessa contida nas palavras da instituição. É evidente que a eucaristia está centrada na presença de Cristo e, por conseguinte, que a promessa contida nas palavras da instituição é fundamental para a celebração. O Pai é, contudo, a origem primeira e o cumprimento final do acontecimento eucarístico. O Filho de Deus feito homem, por quem, com quem e em quem esse acontecimento se cumpre, é o seu centro vivo. O Espírito Santo é a incomensurável força de amor que torna tal possível, tornando-o eficaz. Este vínculo da celebração eucarística com o mistério do Deus-Trindade, situa o papel do Espírito Santo como o que atualiza e vivifica as palavras históricas de Cristo. Na certeza de ser atendida em virtude da promessa de Jesus contida nas palavras da instituição, a Igreja pede ao Pai o Espírito Santo para que ele cumpra o acontecimento eucarístico: a presença real de Cristo crucificado e ressuscitado que dá a sua vida por toda a humanidade.

Comentário:

Não se trata de uma espiritualização da presença eucarística de Cristo, mas da afirmação de uma união indissolúvel entre o Filho e o Espírito. Esta união manifesta que a eucaristia não é um acto mágico e automático, mas sim uma oração que se dirige ao Pai, sublinhando a total dependência da Igreja em relação a ele. As palavras da instituição, promessa de Cristo, e a epíclese, invocação do Espírito, estão pois em estreita relação na liturgia. A epíclese aparece situada de modo diferente em relação às palavras da instituição nas diversas tradições litúrgicas. Nas liturgias primitivas, toda a "oração eucarística" era concebida como portadora da realidade prometida por Cristo. A invocação do Espírito era feita simultaneamente sobre a comunidade e sobre os elementos do pão e do vinho. Reencontrando esta concepção, poderíamos superar as nossas dificuldades relativas a um momento particular da consagração.

15. É em virtude da palavra viva de Cristo, e pelo poder do Espírito Santo, que o pão e o vinho se tornam os sinais sacramentais do corpo e do sangue de Cristo. Eles continuam a sê-lo em vista da comunhão.

Comentário:

Na história da Igreja houve diversas tentativas para compreender o mistério da presença real única de Cristo na eucaristia. Alguns limitam-se à afirmação pura e simples dessa presença, sem querer explicá-la. Outros consideram como necessária a afirmação de uma mudança realizada pelo Espírito Santo e pelas palavras de Cristo, que faz com que não haja mais um pão e um vinho ordinários mas o corpo e o sangue de Cristo. Outros, ainda, elaboraram uma explicação da presença real que não pretende esgotar a significação do mistério, mas quer protegê-la contra as interpretações nocivas.

16. Toda a celebração da eucaristia tem um caráter "epiclético", isto é, está dependente da ação do Espírito Santo. Este aspecto da eucaristia encontra uma expressão variada nas palavras da liturgia.

17. A Igreja, como comunidade da nova aliança, invoca o Espírito com confiança, a fim de ser santificada e renovada, conduzido em toda a justiça, verdade e unidade, e fortalecida para cumprir a sua missão no mundo.

18. O Espírito Santo, através da eucaristia, dá um antegosto do Reino de Deus: a Igreja recebe a vida da nova criação e a segurança da volta do Senhor.

d - A Eucaristia como comunhão dos fiéis

19. A comunhão eucarística com o Cristo presente, que alimenta a vida da Igreja, é ao mesmo tempo comunhão no Corpo de Cristo que é a Igreja. A partilha do mesmo pão e do cálice comum, num dado lugar, manifesta e cumpre a unidade dos participantes com Cristo e com todos os comungantes, em todos os tempos e em todos os lugares. É na eucaristia que a comunidade do povo de Deus é plenamente manifestada. As celebrações eucarísticas estão sempre em relação com a Igreja inteira, e toda a Igreja está implicado em cada celebração eucarística. Na medida em que uma Igreja pretende ser uma manifestação da Igreja universal, deveria preocupar-se com ordenar a sua própria vida segunda vias que tomassem a sério os interesses e preocupações das Igrejas irmãs.

Comentário:

Desde os princípios, o batismo foi concebido como o sacramento pelo qual os crentes são incorporados no Corpo de Cristo e cheios do Espírito Santo. Se, pois, uma Igreja, os seus ministros e os seus fiéis, contestam a outras Igrejas, aos seus batizados e aos seus ministros, o direito de participar na eucaristia ou de a ela presidir, a catolicidade da eucaristia é menos manifesta. Em muitas Igrejas hoje discute-se a questão da admissão das crianças batizadas como comungantes na eucaristia.

20. A eucaristia abarca todos os aspectos da vida. É um ato representativo de ação de graças e de oferta no nome do mundo inteiro. A celebração eucarística pressupõe a reconciliação e a partilha com todos, olhados como irmãos e irmãs na única família de Deus; ela é um constante desafio na busca de relações normais no selo da vida social, econômica e política (Mat 5:23ss; 1 Cor 10:l6ss; 1 Cor 11:20-22; Gal 3:28).Quando partilhamos o corpo e o sangue de Cristo, há um desafio radical que é lançado a todas as formas de injustiça, de racismo, de separação e de ausência de liberdade. Através da eucaristia, a graça de Deus que renova tudo penetra e restaura a pessoa humana e a sua dignidade. A eucaristia envolve o crente no acontecimento central da história do mundo. Como participantes na eucaristia, pois, mostramo-nos inconseqüentes se não participamos ativamente nesta restauração contínua da situação do mundo e da condição humana. A eucaristia mostra-nos que o nosso comportamento é inconsistente em face da presença reconciliadora de Deus na história humana: estamos colocados sob um julgamento contínuo pela persistência de todas as espécies de relações injustas na nossa sociedade, pelas numerosas divisões devidas ao orgulho humano, ao interesse material e às políticas do poder, e enfim pela obstinação assumida nas oposições confessionais injustificáveis no seio do Corpo de Cristo.

21. A solidariedade no Corpo de Cristo, afirmada pela comunhão eucarística, e a responsabilidade dos cristãos entre si e para com o mundo, encontram uma expressão particular nas liturgias: o perdão mútuo dos pecados, o sinal da paz, a intercessão por todos, comer e beber juntos, levar os elementos eucarísticos aos doentes e aos prisioneiros ou celebrar a eucaristia com eles. Todos estes sinais de amor fraterno na eucaristia estão diretamente ligados ao próprio testemunho do Cristo servo: os cristãos participam, eles mesmos, na sua condição de servo. Deus, em Cristo, entrou na condição humana; a liturgia eucarística está, assim, próxima das situações concretas e particulares dos homens e das mulheres. Na Igreja primitiva, ao ministério dos diáconos e das diaconisas incumbia a responsabilidade específica de manifestar este aspecto da eucaristia. O exercício de um tal ministério entre a Mesa e a miséria humana exprime concretamente a presença libertadora de Cristo no mundo.

e - A Eucaristia como refeição do Reino

22. A eucaristia abre a visão do Reino de Deus, prometido com a renovação final da criação, ela é um antegosto dessa nova ordem de coisas. Sinais dessa renovação estão presentes no mundo por toda a parte onde a graça de Deus se manifesta, e onde os seres humanos trabalham pela justiça, pelo amor e pela paz. A eucaristia é a festa na qual a Igreja dá graças a Deus por esses sinais, celebra e antecipa na alegria a vinda do Reino em Cristo (1 Cor 11:26; Mat 26:29).

23. O mundo prometido à renovação está presente em toda a celebração eucarística.

O mundo está presente na ação de graças ao Pai, quando a Igreja fala no nome da criação inteira; o mundo está presente durante o memorial de Cristo, quando a Igreja está unida ao seu Sumo Sacerdote e intercessor, na sua oração por toda a humanidade; o mundo está presente no momento da invocação do dom do Espírito, quando a Igreja aspira à santificarão e à nova criação.

24. Reconciliados na eucaristia, os membros do corpo de Cristo são chamados a ser servidores da reconciliação no meio dos homens e das mulheres, e testemunhas da alegria de que a fonte é a ressurreição. Tal como Jesus ia ao encontro dos publicamos e dos pecadores e comia com eles, durante o seu ministério terrestre, assim também os cristãos são chamados, na eucaristia, a serem solidários dos marginais, a tornarem-se sinais do amor de Cristo, que viveu e se sacrificou por todos, que se dá agora a si mesmo na eucaristia.

25. A celebração da eucaristia é um momento em que a Igreja participa na missão de Deus no mundo. Esta participação toma forma quotidianamente na proclamação do Evangelho, no serviço do próximo e na presença constante no mundo.

26. Dom total de Deus, a eucaristia oferece a realidade nova que transforma a vida dos cristãos, a fim de fazer deles imagem de Cristo e suas testemunhas eficazes. A eucaristia é deste modo um precioso alimento para os missionários, o pão e o vinho dos peregrinos, em vista do seu êxodo apostólico no mundo. A comunidade eucarística é alimentada de maneira a poder confessar por palavras e ações que Jesus Cristo é o Senhor que ofereceu a sua vida pela salvação do mundo. Convertendo-se num povo único em torno de uma refeição única, a assembléia eucarística deve inevitavelmente preocupar-se com a reunião daqueles que estão para além dos seus limites visíveis, pois é Cristo quem convidou para o seu banquete todos aqueles pelos quais ele morreu. O fato de os cristãos não poderem reunir-se numa plena comunhão à mesma mesa, para comerem o mesmo pão e beberem o mesmo cálice, constitui um enfraquecimento do seu testemunho missionário individual e comum.

III. A celebração da Eucaristia

27. A liturgia eucarística é essencialmente um todo, implicando historicamente os seguintes elementos que podem apresentar-se numa ordem diferente e cuja importância não é igual:

  • Canto de louvor;
  • Ato de arrependimento;
  • Declaração de perdão;
  • Proclamação de diversos modos da Palavra de Deus; confissão de fé (credo);
  • Intercessão por toda a Igreja e pelo mundo;
  • Preparação do pão e do vinho;
  • Ação de graças ao Pai pelas maravilhas da criação, da redenção e da santificação (de que a origem é a berakah da tradição judaica);
  • Palavras de Cristo para a instituição do sacramento, segundo a tradição neotestamentária;
  • "Anamnese" ou memorial dos grandes atos da redenção: paixão, morte, ressurreição, ascensão de Cristo e pentecostes que deu existência à Igreja;
  • Invocação do Espírito Santo sobre a comunidade e sobre os elementos do pão e do vinho (epíclese, seja antes das palavras da instituição, seja depois do memorial, ou antes e depois, ou uma outra referência ao Espírito Santo que exprima adequadamente o caráter "epiclético" da eucaristia);
  • Consagração dos fiéis a Deus;
  • Lembrança da comunhão dos santos;
  • Oração pela vinda do Senhor e pela manifestação definitiva do seu Reino;
  • Amém de toda a comunidade;
  • Oração dominical;
  • Sinal de reconciliação e de paz;
  • Fração do pão;
  • Comer e beber em comunhão com Cristo e com cada membro da Igreja;
  • Louvor final;
  • Bênção e envio em missão.

28. O melhor caminho para a unidade na celebração eucarística e na comunhão, reside na própria renovação da eucaristia nas diversas Igrejas, no plano do ensino e d liturgia. As Igrejas deveriam examinar de novo as suas liturgias à luz do crescente acordo eucarístico. O movimento de reforma litúrgica aproximou as Igrejas na sua maneira de celebrar a eucaristia.

Reconhece-se, contudo, que uma certa diversidade litúrgica, compatível com a nossa fé eucarística comum, é uma realidade sã e enriquecedora. A afirmação de uma fé comum a propósito da eucaristia, não implica a uniformidade na liturgia e na prática.

Comentário:

Desde a época do Novo Testamento que a Igreja atribui uma grande importância ao uso contínuo dos elementos do pão e do vinho que Jesus empregou na Santa Ceia. Em certas partes do mundo, onde o pão e o vinho não podem ser facilmente obtidos, pretende-se por vezes hoje que o alimento e a bebida locais servem melhor para enraizar a eucaristia na vida de todos os dias. Impõe-se um estudo ulterior onde se aborde a questão de saber que aspectos da Santa Ceia são imutáveis por força da instituição de Jesus, e que aspectos podem depender da competência e da decisão da Igreja.

29. Na celebração da eucaristia, Cristo congrega, ensina e alimenta a Igreja. É Cristo quem convida à refeição e a ela preside. Ele é o Pastor que conduz o Povo de Deus, o Profeta que anuncia a Palavra de Deus, o Sacerdote que celebra o Mistério de Deus. Na maior parte das Igrejas, esta presidência de Cristo tem por sinal a de um ministro ordenado. O que preside à celebração eucarística no nome de Cristo, manifesta que a assembléia não é proprietária do gesto que cumpre, que ela não é dona da eucaristia: ela recebe-a como um dom do Cristo vivo na sua Igreja. O ministro da eucaristia é o enviado que representa a iniciativa de Deus e exprime a ligação da comunidade local com as outras comunidades na Igreja universal.

30. A fé cristã aprofunda-se na celebração da eucaristia. Por isso a eucaristia deveria ser celebrada freqüentemente. Muitas diferenças de teologia, de liturgia e de prática estão ligadas à freqüência da celebração eucarística.

31. Visto a eucaristia celebrar a ressurreição de Cristo, seria normal ela ter lugar pelo menos todos os domingos. Visto ser ela a nova refeição sacramental do povo de Deus, dever-se-ia encorajar cada cristão a receber a comunhão freqüentemente.

32. Certas Igrejas insistem na duração da presença de Cristo nos elementos consagrados da eucaristia, depois da celebração; outras sublinham antes o ato da celebração em si mesmo e o consumo dos elementos na comunhão. A maneira de tratar os elementos reclama uma atenção particular. No que respeita à reserva dos elementos, cada Igreja deveria respeitar as práticas e a piedade das outras. Dada a diversidade entre as Igrejas, e tida em conta também a situação presente no desenvolvimento das convergências, e útil sugerir:

  • que, por um lado, se lembre, nomeadamente na catequese e na pregação, que a intenção primeira da reserva dos elementos é a sua distribuição aos doentes e aos ausentes;
  • e que, por outro lado, se reconheça que a melhor maneira de testemunhar o respeito devido aos elementos que serviram à celebração eucarística é o seu consumo, sem excluir o seu uso para a comunhão dos doentes.

33. A crescente compreensão mútua expressa no presente documento pode permitir a certas Igrejas atingirem uma maior medida de comunhão eucarística entre elas, e deste modo tornarem mais próximo o dia em que o povo de Cristo dividido será reunido visivelmente à volta da Mesa do Senhor.

Fonte:

Presbyterian Church of Portugal

 

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